No mês de Maio de 2018 nós fomos procurados pelo professor Sérgio e pela diretora Juliana, empossada recentemente, para auxiliá-los com um projeto de intervenções específicas na Escola Municipal de Ensino Fundamental EMEF Professor Nelson Pimentel Queiroz, no Jabaquara em São Paulo, que atende cerca de 800 alunos do 1º ao 9º anos, em sua maioria moradores da região.
O edifício, construído em 1977 e ampliado precariamente em 1986, carece hoje de itens básicos de infraestrutura predial ao mesmo tempo em que sofre com anos de deterioração ambiental dos espaços que abrigam diariamente as atividades de alunos, professores e colaboradores.
Situação Atual
Por avançada que esteja a deterioração do corpo da edificação, mantido desde os anos 80 em regime de esparsa manutenção, é a degradação dos usos de seus espaços que chama a atenção, ao exibir o resultado acumulado em décadas de práticas cerceadoras e policialescas dentro ambiente escolar. Hoje a escola possui, entre seus blocos, portões e grades fechados por chaves que ficam de posse permanente de alguns poucos funcionários, impedindo a livre a circulação de alunos e professores entre diferentes alas da construção. Todas as janelas possuem grades e uma das três escadas que acessa as salas de aula dos níveis acima está constantemente fechada por um portão.
No âmbito físico corredores com larguras abaixo de 90 centímetros conectam as salas de aulas nos pavimentos superiores, obrigando os alunos a travessias tumultuadas a cada 45 minutos, quando devem trocar de sala para assistirem à próxima aula. O primeiro e segundo níveis são providos de seis peças sanitárias cada, três por gênero, sem peças ou cabines adaptadas. Nenhum pavimento é atendido por elevador ou plataforma vertical. Nos intervalos as crianças e adolescentes optam entre frequentar o pátio coberto de pé-direito simples ou o pátio externo, ambientes separados por paredes e um portão fechado com chave, ainda que contíguos. No pátio externo, implantado entre o passeio público e a fachada frontal, e rebaixado em 1,80 m do nível da rua, o que deveria ser a área de recreação e convívio ao ar livre foi invadida, e em grande medida limitada, pela execução de rampa e espera coberta que subtraíram uma área considerável de seu espaço no trecho mais amplo, desarticulando seu uso para criar a nova área de acesso à escola a partir da rua. As quadras esportivas, uma coberta outra descoberta, permanecem trancadas na porção norte do lote, acessadas apenas nas aulas de educação física, têm seu uso proibido nos intervalos.
Para além das grades, portões e cadeados, em sua rotina diária incansável de impedir e cercear e somando-se aos espaços subdimensionados, exitosos em desrespeitar as normatizações mais básicas do edificar e do habitar, nossa escola é ainda assim e apesar de tudo o local onde são preparadas e consumidas as refeições mais importantes do dia para centenas de crianças e adolescentes do bairro do Jabaquara, na zona sul de São Paulo.  
O Partido
Decide-se por duas metas iniciais, do leque possível de intervenções na edificação. Uma, de ordem prática, reconstrói a circulação entre as salas de aulas dos níveis superiores. Outra, de caráter simbólico, quer devolver a escola aos alunos através da reconquista dos espaços de convívio do Térreo. Ambos os objetivos são realizados com a expansão dos pisos e a criação de novo chão.
No térreo eliminam-se as paredes e o portão que separam o pátio coberto da área externa, agora substituídos por portas pivotantes que abrem completamente os três vãos entre pilares da fachada frontal. O piso se dobra para criar um novo lugar de estar em arquibancada, o exterior se expande e adentra parte do térreo coberto enquanto chama pra fora quem está dentro.
Nos andares acima abrem-se as fachadas dos fundos e são retirados os sanitários para que, das escadas, se prolonguem os corredores até às passarelas do novo bloco de circulação, anexada ao prédio existente.
As Intervenções
A criação do novo edifício anexo para circulações e conjuntos sanitários, nos fundos da construção existente, dota os pavimentos superiores da escola de uma circulação articulada e livre pela primeira vez desde a sua construção.
Originalmente concebida em 3 alas estanques, a construção original ordenava as salas de aula do primeiro e segundo andares de modo que tivessem a largura do corpo do prédio, com janelas nas duas fachadas principais, excluindo conexões no mesmo pavimento. Assim os acessos às salas se davam pelo corredor em frente as escadas, no mesmo local de onde se acessavam os banheiros. Aquela configuração obrigava os usuários a descer até o térreo e tomar outra das escadas quando se desejava ir a outra sala de aula do mesmo andar. As alterações na década de 80 procuraram resolver a circulação nos níveis e criaram corredores junto a fachada frontal, subtraindo das salas e deixando-as com janelas apenas para os fundos do lote. Por melhor intencionada que fosse, a mudança foi extremamente mal planejada e entregou corredores de largura abaixo das normas e transformou os pavimentos em uma sucessão de espaços apertados e que hoje geram tumulto entre os alunos a cada troca de aula.
O novo anexo retira os sanitários das circulações para permitir a criação das passarelas que conectam em nível todas as salas de aula e todas as escadas nos pavimentos superiores. Destacada do corpo existente, a nova estrutura mantém as janelas posteriores das salas livres e funcionando, garantindo a ventilação cruzada originalmente executada para estes cômodos. Na extremidade sudeste a estrutura se prolonga para a nova plataforma vertical, dotando a escola de circulação acessível pela primeira vez desde sua inauguração. Os andares receberam ainda um novo conjunto de banheiros, posicionados na parte nordeste da nova estrutura, adicionando uma cabine adaptada em cada pavimento. No trecho em que a nova estrutura se sobrepõe ao pátio coberto, no térreo, a estrutura transita e busca apoio na divisa do lote para preservar o espaço de convívio dos alunos.
No térreo o pátio externo foi recuperado e devolvido aos alunos. A antiga rampa, encimada por abrigo no portão principal da entrada e saída das crianças, foi demolida e substituída por uma arquibancada, desdobramento do chão original convertido em nova área de estar, de convívio, brincadeiras e atividades letivas. Os jardins foram recuperados e o muro de dois metros de altura na calçada, quase quatro metros quando visto de dentro, é substituído por gradil metálico. A cidade agora pode ver a escola e a escola pode ver a rua. Estendendo-se para o interior, o pátio externo quer adentrar o térreo numa tentativa de trazer mais vida para a antes confinada área de pé-direito simples.
Antes dotado de mobiliário em alvenaria e revestido em cerâmica, e com duas muretas interrompendo o espaço, o pátio coberto foi liberado dos elementos fixos e ganhou novas cores em seus novos acabamentos. Agora desobstruído o lugar, mais flexível, abrigará os usos imaginados por professores e estudantes.
No limite frontal do lote fica estabelecida uma nova relação entre a escola e a via pública. O novo portão de acesso é assinalado pela recém instalada cobertura apoiada sobre um único pilar, no patamar existente entre as quadras e a construção original, no nível da calçada. O abrigo na entrada oferece proteção enquanto direciona as pessoas para o corredor no interior da escola, nos dias de chuva. Nos demais dias a entrada acontece por uma nova rampa que liga a rua aos pátios de fora e de dentro.
A madeira foi o material eleito para execução de todos os itens de intervenções na edificação - a estrutura do novo anexo de circulação, a arquibancada de estar e convívio no pátio externo, a nova rampa de acesso à entrada e a cobertura do abrigo no portão da escola. A escolha pelas peças laminadas coladas mira na agilidade de execução e redução do tempo de obra e interferência na rotina da instituição, enquanto procura explorar as vantagens da pré-fabricação com a relativa redução do peso dos elementos estruturais.
Status
No segundo semestre de 2018 foram realizadas reuniões entre o corpo diretivo e docentes, arquitetos e membros do comitê de pais de alunos da escola para apresentação e discussão do projeto e meios para realizá-lo. Aconteceram também reuniões entre a escola e a coordenação regional de ensino, para início das investigações e definições de estratégias para viabilizar as melhorias no edifício em três ou quatro fases de execução, com expectativa para início das obras em 2020. Algumas propostas para alterações de escopos de obras previstas no orçamento público, mas que se mostram pouco efetivas já que são ditadas por um programa determinado por entidades externas ao cotidiano escolar, também são pleiteadas.
Hoje, o coletivo de atores responsáveis por levar adiante a proposta de requalificação da Escola Municipal Nelson Pimentel Queiroz abarca arquitetos, diretoria, coordenação, professores e pais de alunos, e tenta expandir o diálogo com a administração pública ao mesmo tempo em que procura apoiadores no setor privado. Alunos e colaboradores também são ouvidos e uma nova agenda de reuniões começa a ser montada para o próximo ano, enquanto ainda está para acontecer um encontro com a comunidade do bairro Jabaquara, marcada para o dia 1º de Dezembro de 2018.
Um dos alunos se adianta e faz um pedido, diz que gostaria de ter consertadas as mesas de pingue-pongue para voltar a jogar nos intervalos.
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